Nossa sociedade se formou tendo como base valores patriarcais e religiosos, onde o homem é o "cabeça" e a mulher submissa, que até nos últimos dias tem trazido consequências destruidoras, uma disparidade muito grande entre os gêneros masculino e feminino, onde a mulher ainda é vista como um ser inferior pela simples condição de ser mulher, o seu corpo atrai olhares como um verdadeiro objeto sexual masculino.
Interessante observar que em todas as etapas do nosso crescimento, (homens) aprendemos a objetificar o corpo da mulher e acabamos assimilando isso, trazendo como "natural" para as nossas relações de adultos, legitimando ações e relação de violência todos os dias.
Sendo assim, perpetua-se o mecanismo de legitimidade alimentando a
naturalização do estupro.
Que culpa tem o bb de fraldas? Assim como a fralda, a mini-saia não tem culpa nenhuma, a culpa é sempre do agressor.
E pra falar de punição, é muito importante que façamos uma reflexão prévia. Pena de morte, castração química ou tortura na cadeia, parece que não vem surtindo efeito, muito pelo contrário, temos visto uma crescente dos crimes envolvendo estupros de crianças, meninas e mulheres e nos casos mais extremos a morte da vítima, parece que nenhum deles temem à represálias da comunidade ou tortura e até morte na cadeia. (Obs. Não estou dizendo que não deve punir).
Precisamos tratar deste assunto em suas várias vertentes, claro que a primeira é a punição do estuprador, mas e depois? É necessário falar sobre nossa cultura, aquilo que está nosso dia-a-dia mas não notamos. O que estamos reproduzindo nas rodas de conversas ou nas mesas de bar com os amigos? O que estamos fomentando ao ensinar um menino a assoviar para a menina, ou dizer que duas crianças de 4 anos são "namoradinhos"? O que queremos dizer quando falamos pro menino que "homem não chora" ou que "homem de verdade" não faz isso ou aquilo?
As crianças, meninos e meninas, são o fururo do nosso Brasil, e o que estamos fazendo com elas? Todo dia estamos matando uma parte do nosso futuro e deixando um vazio enorme em várias famílias.
Mudar comportamentos na nossa casa, ensinar o menino ser cavalheiro, a se abrir, falar de semtimento e de suas dores, e o mais importante, que o corpo da coleguinha não é propriedade dele, que ele jamais deve tocá-lo sem permissão dela é fundamental. Ensinar também o mesmo para a menina.
Bom também é falar sobre questões do corpo que remetem às suas partes íntimas, onde eles (crianças) jamais devem permitir que um adulto (guardadas todas as exceções) devem tocar, para que eles possam identificar abusos.
Precisamos ensinar os meninos e as meninas a falarem sobre o que sentem, e se por ventura vierem sofrer qualquer tipo de violação, eles precisam encontrar nos adultos de confiança deles (pai e mãe principalmente) toda liberdade e conforto pra contar, tios, cuidadores e educadores também devem estar atentos e sensíveis ao pedido de socorro da criança e do adolescente, eles sempre dão sinais. Só assim vamos evitar a destruição de vidas, famílias, sonhos e o futuro daqueles que sobrevivem aos abusos.
Cadeia, morte, castração e tortura não resolvem o problema, a punição pode ser cruel, assim como o ato cometido é, mas se nada for feito pra mudar nossa cultura, novos estupradores (muitos abusados na infância) vão surgir e novas vítimas terão seus corpos violados, vidas interrompidas e futuros cessados.
Vamos falar sobre isso, mudar nossa cultura, educar nossas crianças, e salvar nosso futuro.